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Fumaça na cabeça

Estudos recentes indicam que o uso da maconha altera a química e as conexões do cérebro

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Não importa se você nunca experimentou, se já usou ou se é usuário de maconha. Sempre que pensar no assunto, é importante saber que essa droga, a substância ilícita mais consumida no planeta, interfere na liberação de diversos neurotransmissores importantes e causa alterações na condução de impulsos elétricos no cérebro. O que há de mais recente sobre a ação da Cannabis sativa - nome científico da planta que dá origem à droga - no órgão mais nobre do corpo humano, o cérebro, foi apresentado no congresso anual da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em Belo Horizonte (MG).
Segundo o psiquiatra Acioly Luiz Tavares de Lacerda, do Laboratório de Neuroimagem e Cognição da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a maconha provoca a exacerbação de sintomas psicóticos no cérebro. Estudos com animais e, em menor número, com humanos, já mostraram também que o delta-9-tetrahydrocannabinol (THC) - principal componente psicoativo da maconha - interfere na ação de diversos neurotransmissores, tais como o glutamato, o GABA, a norepinefrina, a dopamina e a serotonina.
Com a evolução dos métodos de diagnóstico por imagem, os cientistas estão conseguindo documentar, e com mais precisão, os efeitos do uso crônico e agudo da droga em diferentes regiões cerebrais. Por conta destes avanços na tecnologia de imagem, os pesquisadores encontraram evidências de que o uso prolongado de maconha pode causar alterações eletroencefalográficas (na condução de impulsos elétricos no cérebro), o que reforça a hipótese de que a droga pode ter efeitos tóxicos cumulativos.
Tudo isso só foi possível a partir da identificação da composição química da maconha, na década de 60, e da posterior descoberta de que o cérebro tem receptores específicos para os canabinóides - os componentes contidos na planta. Espalhados por diversas regiões do encéfalo (veja o infográfico), eles modulam a ação de neurotransmissores envolvidos nas mais variadas funções, desde a sensação de bem-estar até a execução de funções motoras ou cognitivas.
Mas se o conhecimento dos efeitos nocivos da maconha aumentaram, com eles cresceram as perspectivas de tratamento da própria dependência química e das compulsões. Tudo isso graças à descoberta de que o cérebro produz substâncias muito semelhantes aos canabinóides da maconha. Batizadas de endocanabinóides, elas abriram novas linhas de pesquisa com o objetivo de desenvolver medicamentos que estimulem esse sistema para tratar obesidade e adição, explica o pesquisador Fabrício Araújo Moreira, do Departamento de Farmacologia da Universidade de São Paulo (USP), de Ribeirão Preto.

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Saiba mais

As principais formas da droga consumidas no mundo são: a maconha (prensada no mel ou no uísque), a maconha híbrida (manipulada em laboratório), o skunk, o haxixe (resina dos brotos da planta), os óleos de haxixe (haxixe destilado) e o bhang (apresentação líquida da droga)

As folhas e as flores da Cannabis sativa contêm uma resina com 60 componentes diferentes, chamados de canabinóides

A principal substância psicoativa da planta é o delta-9-tetrahydrocannabinol (THC)

A partir da identificação do THC, os cientistas descobriram a existência de receptores cerebrais específicos onde esses canabinóides se ligam: o subtipo 1 (CB1) e o subtipo 2 (CB2)

Foi identificada uma série de canabinóides endógenos, ou endocanabinóides (produzidos pelo próprio organismo), que se ligam aos receptores CB1 e CB2

O endocanabinóide mais estudado até hoje é a anandamida, que se encontra em pequenas quantidades no cérebro. O termo "ananda" significa felicidade serena, bem-aventurança e felicidade perfeita

Perfil do usuário

Homem

Jovem (dos 20 aos 30 anos)

Morador de centros urbanos

Observa-se uma tendência de abandono do uso de maconha por volta dos 25 anos (70% dos usuários), geralmente associada ao aumento de cargas de responsabilidade, como trabalho, casamento e filhos

Panorama

A maconha é a substância ilícita mais consumida no mundo

161 milhões de pessoas consomem a droga em todo o planeta, o que significa 4% da população mundial entre 15 e 64 anos

1,5% a 2% dos usuários nos primeiros cinco anos de consumo da droga se tornam dependentes

10% das pessoas que experimentam a droga se tornam usuários diários

Os efeitos

A curto prazo

Veja o impacto da droga no organismo logo após o uso:

Relaxamento e/ou sensação de euforia

Pupilas dilatadas

Conjuntivas (branco dos olhos) avermelhadas

Boca seca

Aumento do apetite

Irritação da mucosa nasal e da faringe

Comprometimento da capacidade mental

Percepção e coordenação motora alteradas

Voz pastosa

Aumento dos batimentos cardíacos e da pressão arterial

Despersonalização

Ansiedade e/ou confusão

Alucinações

Perda da capacidade de compreensão rápida

A longo prazo

Conheça os efeitos crônicos da maconha no usuário:

Fatiga crônica e letargia

Náuseas crônicas

Dor de cabeça

Irritabilidade

Tosse seca

Dor de garganta crônica

Congestão nasal

Piora da asma

Infecções freqüentes dos pulmões

Bronquite crônica

Diminuição da coordenação motora

 

Alterações na memória e na concentração

Alteração da capacidade visual (profundidade e cor)

Alteração do pensamento abstrato

Infertilidade

Alterações da menstruação

Impotência

Diminuição da libido e da satisfação sexual

Depressão e ansiedade

Mudanças rápidas de humor

Ataques de pânico

Mudanças de personalidade

Tentativas de suicídio

Isolamento social

Afastamento do lazer e de outras atividades

Fonte: Ronaldo Laranjeiras, diretor-geral da Unidade de

Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad)

Tire suas dúvidas

Como eu sei se meu filho usa maconha?

A melhor forma de saber é se ele contar, por isso estimular o diálogo é essencial.

Mas algumas situações podem ser sugestivas: quando intoxicada, a pessoa tem suas funções desaceleradas, desde o pensamento até a atividade motora. Ela fica com olhos vermelhos, sede, muito apetite, fica disponível para longas conversas e tende a ficar mais relaxada. A médio prazo, começa a agir diferente, mudando a rotina e até deixando de cumprir com suas responsabilidades.

Se meu filho fuma um baseado, isto significa que ele é viciado?

Não. Apesar de haver a possibilidade de ele se tornar dependente de maconha, não é pelo consumo de um cigarro da droga que ele estará viciado.

Uma vez constatado o uso, é importante abrir diálogo e dar espaço para ele conversar sobre a experiência, sem puni-lo.

A família deve buscar uma resposta balanceada: por um lado mostrar desaprovação clara e indiscutível, por outro mostrar disposição para o diálogo.

Como posso ajudar meu filho a parar?

É preciso que você esteja informado sobre a droga e possibilite o acesso de seu filho à informação, que deve ser a mais imparcial e menos alarmista possível. Você só poderá ajudar seu filho se ele estiver permeável a sua influência como familiar.

Muitas vezes, as pessoas necessitam saber que existem pessoas próximas que gostam dela e que acreditam na sua mudança. Outras vezes é necessário buscar ajuda profissional. O importante é que você não deve estimular o consumo, dando dinheiro na mão.

Fonte: psiquiatra Ronaldo Laranjeira, diretor-geral da Uniad (www.uniad.org.br)

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Fonte: Por Leoleli Camargo publicado no Caderno Vida do Jornal Zero Hora de 29/10/2005.

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